segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Aspectos sócio-econômicos de Guiné

A Guiné é um país no oeste da África. A capital é Conakry. A principal religião é o Islã (Sunnita).
A língua nacional é o Francês, outras línguas principais são o Mande e o Susu. A Guiné Francesa se tornou independente da França como Guiné em 1958. O país é agora uma república presidencialista onde apesar das estruturas democráticas não há possibilidades razoáveis para a oposição. Independente da França desde 1958, a Guiné não realizou eleições democráticas até 1993 quando o Gen. Lansana Conte (chefe do governo militar) foi eleito presidente do governo civil. Ele foi reeleito em 1998. O conflito em Serra Leoa se espalhou pela Guiné, ameaçando a estabilidade e criando uma emergência humanitária.

As crianças da Guiné estão crescendo em dois mundos diferentes. Muitos têm ainda os pais engajados nas atividades tradicionais: colheitas à mão ou criação do gado. Ao mesmo tempo que seus pais ganham suas vidas nesta maneira velha, tradicional, as crianças vão às escolas modernas onde aprendem Francês, Inglês, e Árabe. Cada criança fala também uma língua tradicional, a língua de sua família, a linguagem mãe. Assim é com as línguas que a criança expressa o velho e o novo.
A Guiné é primariamente um país agrícola. Os animais domésticos são criados por todo o país exceto na planície litorânea. Os agricultores cultivam as colheitas a serem exportadas ou vendidas localmente. Estas colheitas variam nas diferentes regiões da Guiné. Na planície litorânea, por exemplo, as bananas são cultivadas em plantações, na maioria para exportação. Muitas das plantações ficam situadas perto das ferrovias ou próximas do porto de Conakry, que tem equipamento especial para carregamento das bananas. O arroz é cultivado em duas variedades: o tipo molhado, que é cultivado debaixo d'água, e o arroz do monte, que é crescido seco. Os inhames e a mandioca são cultivados também, primeiramente para o consumo da família. No Fouta Djallon, as bananas, as frutas cítricas, e os abacaxis são crescidos. As montanhas também são apropriadas para o cultivo do café. Habitada pelos Fulani, que foram pastores por séculos, esta é também uma área para criação do gado. Os Fulani e seus rebanhos de gado são encontrados também na região da Alta Guiné. Os agricultores ali cultivam amendoins, tabaco, algodão, e sementes para venda comercial, enquanto cultivam a mandioca e o millet para uso da família. Nos altiplanos remotos da Guiné, onde se encontram as fronteiras da Guiné, Serra Leoa, e Liberia, as nozes de kola, café, e tabaco são colheitas tradicionais. Esta região foi envolvida em conflitos fronteiriços no início do século 21 que destruiram a agricultura e criaram uma grande população de refugiados.
Os minerais mais importantes da Guiné são bauxita, diamantes, e minério de ferro. Os diamantes são principalmente de qualidade industrial e poucas gemas. O minério da bauxita, usado para fazer alumínio, é encontrado em ricos depósitos, o mais importante dos quais está na cidade de Fria, cêrca de 145 km norte de Conakry. Ali o minério é usado para fazer a alumina que é exportada para as refinarias de alumínio por todo o mundo. Os grandes depósitos de minério de ferro são minados em reservas da península de Kaloum, em torno de Beyla e de Kérouané, e nas Montanhas Nimba.O transporte na Guiné não é bem desenvolvido, embora uma rede de estradas cubra agora muito do país. A principal ferrovia, originando em Conakry, corre ao norte de Kankan, uma distância de cêrca de 640 km. Outras linhas conectam as principais áreas mineradoras com Conakry. Os aeroportos internacionais ficam situados em Conakry e Kankan.
Exército decreta golpe de Estado e vai às ruas de Guiné após a morte de presidente

Entenda a instabilidade na Guiné
da BBC


A Guiné vive uma disputa pelo poder que teve como estopim a morte, na noite de segunda-feira, do presidente do país, Lansana Conté, de 74 anos. O país, situado na costa oeste da África, é um dos maiores exportadores de bauxita do mundo, mas a maioria dos seus habitantes vive com menos de US$ 1 por dia.


A BBC preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender a instabilidade na Guiné.


O que está acontecendo no país?
Há muito tempo o líder enfrentava problemas de saúde. Horas após sua morte, um anúncio na rádio estatal disse que o Exército tinha dissolvido o governo. Tropas e tanques estão nas ruas e no comando de bloqueios instalados nas estradas. Mas não houve violência e, segundo relatos, o país está calmo.
O primeiro-ministro insiste, no entanto, que o governo ainda está no controle.


Então, quem está realmente no comando do país?
Aparentemente, os militares estão divididos. O comandante do Exército, general Diarra Camara, e um grupo de soldados apóiam o governo. Camara disse à emissora de televisão francesa France 24 que os líderes do golpe não representam a maioria das tropas. Entretanto, até o momento, os líderes do golpe parecem estar dando as cartas.

Exército decreta golpe de Estado e vai às ruas de Guiné após a morte de presidente
O correspondente da BBC Alhassan Sillah, baseado em Conacri, capital da Guiné, disse que a presença de tanques nas ruas tem o objetivo de mostrar que eles estão no comando. Eles estão posicionados em um quartel em Conacri que fica muito perto das estações de rádio e TV nacionais, o que facilita aos revoltosos controlar a mídia.
O capitão Mussa Dadis Camaram, indicado pelos golpistas para liderar a junta militar no poder, anunciou que um conselho nacional de 32 membros vai governar o país até as eleições em dezembro de 2010, quando o mandato de Conté teria terminado.


O golpe foi uma surpresa?
Poucos duvidavam de que o Exército iria desempenhar um papel importante após a morte de Conté, que durante a maior parte do seu governo foi mantido no poder pelos próprios militares. Nos últimos anos, o Exército vinha dando sinais de que tinha cada vez mais controle sobre o país, especialmente no período em que Conté estava doente, sendo visto em público muito raramente.
Quase dois anos atrás, os militares abafaram manifestações nacionais contra o governo de Conté. Cerca de 150 manifestantes foram mortos.
O correspondente da BBC no oeste da África Will Ross disse que sempre que havia descontentamento no Exército, freqüentemente por questões salariais, o presidente simplesmente promovia os insatisfeitos e aumentava seus salários, prejudicando ainda mais as finanças do país.
O nepotismo e a corrupção dominam a sociedade e, como resultado, poucos entre os nove milhões de cidadãos da Guiné se beneficiaram das ricas reservas minerais do país. A preocupação agora é que a luta pelo poder assuma uma dimensão étnica, levando a Guiné a uma guerra perigosa, similar às que deixaram cicatrizes nos vizinhos Libéria e Serra Leoa. A minoria sussu se beneficiou durante o governo de Conté e agora os dois maiores grupos étnicos da Guiné --fulanis e mandingas-- podem entrar em guerra pelo controle do país.


Qual foi a reação da comunidade internacional?
A União Africana, a União Européia, os Estados Unidos e o ex-colonizador da Guiné, a França, condenaram a tentativa de golpe. A organização regional africana Ecowas também pediu que haja uma transição democrática para o poder. Nos últimos 18 anos, a Ecowas tem exercido uma função importante na região, dissolvendo conflitos, enviando tropas e forças de paz para Serra Leoa, Libéria e Guiné-Bissau.
A União Africana fez uma reunião de emergência para discutir a situação. Mas, assim como aconteceu com a Mauritânia, um país vizinho que sofreu um golpe de estado em agosto deste ano, há pouca probabilidade de que simples condenações revertam o golpe.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Configuração Política Guiné

Antes das alterações políticas atuais, a Guiné possuía a seguinte configuração política:

Poder Executivo
Chefe de Estado - Presidente Lansana Conté (chefe do governo militar desde 5 de Abril de 1984. Eleito presidente em 19 de Dezembro de 1993. Morto em 22 de dezembro de 2008). Após sua morte deveria ser suscedido interinamente pelo presidente da Assembléia Nacional Popular e este convocar eleições dentro de 60 dias
Chefe de Governo - Primeiro Ministro Lamine Sidime (desde 8 de Março de 1999)
Gabinete - Conselho de Ministros, indicados pelo presidente
Eleições - O presidente é eleito por voto popular para um mandato de 5 anos. O candidato deve receber a maioria dos votos para se tornar presidente.

Poder Legislativo
Representado pela Assembléia Nacional Popular (Assemblee Nationale Populaire) com 114 cadeiras. Seus membros são eleitos por voto direto popular para um mandato de 5 anos
Eleições - A última ocorreu em 18 de Abril de 2005

Poder Judiciário
Corte de Apelação (Cour d'Appel)
Exército declara golpe de Estado com a morte do presidente de Guiné, Lansana Conté,
vítima de enfermidade, na segunda-feira (22)

ONU pede que Forças Armadas da Guiné respeitem democracia
Publicidade

da Efe
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, pediu que a parcela das Forças Armadas da Guiné que tentaram promover um golpe de Estado nesta terça-feira, após a morte do presidente do país, o general Lansana Conté, "respeitem o processo democrático".
Conforme a porta-voz Marie Okabe, Ban ressaltou que, neste momento de transição, é preciso que haja "uma transferência de poder democrática e pacífica, de acordo com a Constituição". Ban deu pêsames ao governo, ao povo e à família do presidente morto e pediu "calma" a todos, disse a porta-voz.
"O secretário-geral cumprimentou o extenso compromisso do presidente Conté com a manutenção da paz e a unidade na Guiné, e a promoção da estabilidade e cooperação regional na bacia do rio Mano", afirmou.
O golpe começou poucas horas após a morte de Conté. O capitão Mussa Dadis Camara foi à rádio nacional e afirmou que, a partir desta terça-feira, a Constituição estava suspensa assim como "todas as atividades políticas e sindicais". "O governo e as instituições republicanas foram dissolvidos", disse o militar.
Mais tarde, um grupo de militares chegou a convocar "membros do governo e oficiais gerais" a se refugiar no principal campo militar do país, em Conakry.
O apelo não só não foi atendido como os dois principais dirigentes políticos do país --o presidente da Assembléia Nacional, Abubacar Somparé, e o primeiro-ministro, Tidiane Souaré-- foram a público desmentir o golpe. "Não há ameaças contra ninguém", disse Souaré. "Estou seguro de que a razão acabará prevalecendo."

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Guiné - Golpe Militar


Presidente morre e militares assumem o poder em Guiné
da BBC Brasil
O Exército de Guiné anunciou a dissolução do governo e a suspensão da Constituição do país, poucas horas depois da morte do presidente Lansana Conte, 74, nesta terça-feira.
Em um comunicado transmitido pela rádio estatal, o capitão Moussa Dadis Camara anunciou que 'um conselho consultivo' formado por líderes civis e militares assumiria o governo.
As instituições estatais são "incapazes de resolver as crises que vêm confrontando o país", disse o militar. Conte, que morreu aos 74 anos, comandou o país na África Ocidental com mão de ferro desde 1984.
As circunstâncias da morte de Conte ainda não são conhecidas. Sabe-se que ele sofria de diabetes. O primeiro-ministro da Guiné, Ahmed Souare, fez, em rede nacional de TV, um apelo por calma à população e declarou 40 dias de luto nacional.
Desespero profundo
Apenas horas depois do porta-voz do Parlamento ter anunciado a morte de Conte, o capitão Camara foi à rádio estatal avisar que o Exército havia assumido o poder e anunciar a criação de um orgão chamado Conselho Nacional para o Desenvolvimento e Democracia.
"A partir de hoje, a Constituição fica suspensa, bem como as atividades políticas e sindicais", disse ele. "O governo e as instituições da república foram dissolvidas." O capitão Camara afirmou que o país está em estado de "profundo desespero" e que é vital que algo seja feito para melhorar a economia e combater a corrupção.
Ele acrescentou ainda que um militar assumiria a presidência e um civil seria o novo primeiro-ministro de um novo e eticamente equilibrado governo. O correspondente da BBC Alhassan Sillah na capital, Conacri, disse que não há sinais de tropas nas ruas.
"Onde estou está mais quieto do que o normal, a não ser pelo barulho dos veículos que passam nas ruas e são poucos", disse ele ao programa Network Africa, da BBC.
"Não vi nenhuma criança de uniforme de escola e também não vi nenhuma das mulheres que, a esta hora, estariam indo ao mercado."
Mais cedo, o líder da União para o Progresso da Guiné e o secretário da aliança da oposição, Frad, Jean-Marie Dore, pediram uma transição pacífica de poder.
"A coisa mais importante hoje é que as instituições do país possam trabalhar para evitar desordem desnecessária na Guiné, o que traria piora na situação já difícil", disse Dore à Radio France Internationale.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Gilmar Mendes na Carta Capital

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=2287

Desde que veio à tona a história do suposto grampo de uma conversa com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, galvanizou os anseios de uma parte da sociedade que enxerga nos ministros de tribunais superiores a chance de controlar o poder negado nas urnas em eleições recentes. Como “vítima” de uma interceptação ilegal até agora não comprovada, Mendes acabou alçado à condição de paladino do Estado de Direito, dos valores republicanos e, por que não, da moralidade pública. O episódio exacerbou uma tendência crescente do STF, a de interferir além dos limites de sua atribuição na vida dos demais poderes. Coube a Mendes chegar ao extremo, quando chamou “às falas” o presidente da República por conta da mal-ajambrada denúncia do tal grampo. O Congresso, a Polícia Federal, os juízes de primeira instância, o Ministério Público, ninguém escapa da fúria fiscalizadora do magistrado que ocupa o principal cargo do Poder Judiciário no Brasil. Quem tem a pretensão e o pendor para “varão de Plutarco”, presume-se, segue à risca na vida particular os padrões morais que prega aos concidadãos. Não parece ser este o caso de Mendes. A começar pela sua participação no controle acionário do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Há de cara um conflito ético, ainda que as regras da magistratura não sejam claras o suficiente sobre a permissão de juízes possuírem negócios. Criado em 1998, o IDP organiza palestras, seminários e treinamento de pessoal, além de oferecer cursos superiores de graduação e pós-graduação. Entre 2000 e 2008, faturou cerca de 2,4 milhões de reais em contratos com órgãos ligados ao governo federal, todos firmados sem licitação. No quadro de professores contratados pelo instituto figuram ministros de Estado e dos tribunais superiores, e advogados renomados, vários deles defendendo clientes com ações que tramitam no STF presidido por Mendes. A Lei Orgânica da Magistratura deixa dúvidas sobre os limites da atuação de juízes além dos tribunais. O parágrafo 2º do artigo 36 diz ser vedado exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, caso do IDP, mas nada diz sobre possuir ações ou cotas do empreendimento. Magistrados mais antigos sempre interpretaram que a lei só permite ao juiz dar aulas remuneradas, nada mais. A visão tem mudado. Estudiosos do Direito como David Teixeira de Azevedo, professor da Universidade de São Paulo, e Dalmo Dallari, professor aposentado da USP, afirmam que não há nada na legislação que proíba expressamente a participação societária em empresas privadas. “É preciso ver, porém, se o juiz se valeu de sua condição para obter qualquer tipo de benefício.” O que se pode dizer do IDP é que gravitam ao seu redor nomes de peso da República. O corpo docente é formado por 87 professores, entre eles dois ministros do governo Lula, Nelson Jobim (Defesa) e Jorge Hage (Controladoria-Geral da União). Eventualmente dão palestra no instituto, José Antonio Toffoli, advogado-geral da União, e Mangabeira Unger, do Planejamento Estratégico. Unger, por exemplo, esteve lá na quinta-feira 2, na abertura do 11º Congresso Brasiliense de Direito Constitucional. Vários dos colegas de tribunal também são docentes do instituto: Carlos Alberto Direito, Carlos Ayres Britto, Carmem Lúcia Rocha, Eros Grau e Marco Aurélio Mello. Há ainda diversos titulares do Superior Tribunal de Justiça. O presidente do STF tem dois sócios na escola. Um deles é o procurador regional da República Paulo Gustavo Gonet Branco, o outro, o advogado Inocêncio Mártires Coelho, último procurador-geral da República da ditadura, nomeado pelo general-presidente João Baptista Figueiredo, em junho de 1981. De acordo com a Junta Comercial do DF, cada sócio desembolsou 402 mil reais, num total de 1,2 milhão de reais, para fundar o IDP. O investimento parece ter dado frutos. O IDP mantém, por exemplo, contrato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atualmente presidido por Carlos Ayres Britto, que substituiu na função Marco Aurélio Mello. Já o faturamento em contratos com a União cresceu após Mendes ter sido nomeado ministro do Supremo. De 2003 para cá, o valor somou 1,6 milhão de reais, segundo dados disponíveis no site Contas Abertas (www.contasabertas.com.br). O mês de setembro foi particularmente pródigo: 350 mil reais em convênios. Todos, repita-se, firmados sem licitação. No Portal da Transparência da CGU, mantido pelo governo federal, há dados interessantes sobre os contratos do instituto. Dentro das guias de pagamento do portal, aparece um acordo com a Receita Federal até para trabalho aduaneiro. O Ministério da Defesa – de Jobim – pagou 55 mil reais ao instituto, e a CGU, 15 mil reais. Têm sido comuns também contratos com a Força Aérea Brasileira. Tanto interesse da FAB nas consultorias do instituto do ministro Gilmar Mendes tem uma razão de ser. O diretor-geral do IDP é um experiente coronel da reserva da Aeronáutica, Luiz Fernandes de Oliveira, segundo ele mesmo, com carta-branca dos sócios para fazer tudo, “menos fechar o IDP”. Aviador por formação, com cursos de administração pública na Fundação Getulio Vargas e de Ciências Políticas Militares, no Exército, o coronel Fernandes é um velho conhecido do brigadeiro Juniti Saito, com quem trabalhou na FAB. Bem articulado, o diretor-geral fechou bons contratos para o IDP, e não somente na Aeronáutica. Os valores recebidos da União pelo IDP, em 2008, devem-se, sobretudo, a três contratos firmados com o Senado Federal, o STJ e a Receita Federal. Do Senado, o instituto do ministro Mendes recebeu 125 mil reais, para ministrar um curso de Direito Constitucional para “consultores e demais servidores” da Casa. No STJ, o curso é de Direito Tributário, voltado para servidores lotados em gabinetes de ministros, ao custo de 88,2 mil reais. E, finalmente, da Receita Federal o IDP recebeu 117,9 mil reais para também aplicar um curso de Direito Tributário a funcionários do órgão. Pelo Portal da Transparência é possível saber que a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional contratou o IDP para gerir o programa de “Recuperação de Créditos e Defesa da Fazenda Nacional”, por 11 mil reais. O interessante é que, entre os professores do IDP, há três procuradores da Fazenda Nacional: Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy, José Levi Mello do Amaral Júnior e Rodrigo Pereira de Mello. Há mais. Em 2006, a Receita Federal pagou 16 mil reais ao IDP na rubrica “Administração do Programa” e “Arrecadação Tributária e Aduaneira” do Aeroporto de Brasília. Segundo a assessoria do órgão, a Receita pagou curso de pós-graduação em Direito Tributário a servidores. Na mesma linha, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do MEC pagou 58 mil reais ao IDP para “Controle e Inspeção da Arrecadação do Salário-educação e sua Regular Aplicação”, dentro do programa de Gestão da Política de Educação. Os cursos oferecidos pelo IDP também foram contratados pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF), que pagou 690 mil reais para oferecer a 92 procuradores do DF pós-graduação em Direito Público, entre março de 2006 e junho de 2007. Assim como nos outros contratos, a licitação foi considerada “inexigível”. No período em que Jobim presidiu o STF, entre 2005 e 2006, o tribunal gastou quase 50 mil reais em cursos e eventos oferecidos pelo instituto de Mendes, tudo sem licitação, na modalidade “inexigível”, ou seja, a partir do pressuposto de não haver outra entidade capaz de prestar serviços semelhantes. De fato, ao congregar quase uma centena de advogados, ministros, promotores, juízes, auditores, procuradores e auditores no corpo docente do IDP, Gilmar Mendes praticamente anulou a possibilidade de surgirem outras instituições capazes de prestar os mesmos serviços em Brasília. Em 2006, reportagem do jornal O Globo denunciou uma das relações estranhas do IDP com o STF. Então presidente interino do Supremo (a titular, Ellen Gracie Northfleet, estava de licença médica), a única saída de Mendes foi transformar em “bolsa de estudos” um empenho de 3,6 mil reais referente a um curso de mestrado em Ações Constitucionais ministrado pelo IDP a três funcionários do Supremo. Ao se justificar, o ministro alegou não ter havido irregularidade porque cabia aos servidores escolher o curso e a escola onde pretendiam fazer as especializações. Só se esqueceu de dizer que, como o IDP tem o monopólio desses cursos em Brasília, o instituto não só foi o escolhido como, claro, caiu na modalidade “inexigível” de licitação. Ainda assim, as poucas tentativas de impedir o presidente do STF de usar de influência para conseguir contratos no governo, até hoje, foram em vão. A primeira delas ocorreu em abril de 2002, pouco antes de ele ser nomeado ao STF, quando o Ministério Público Federal instaurou uma ação de improbidade administrativa justamente por Mendes ter contratado o IDP para dar cursos no órgão do qual era o principal dirigente, a Advocacia-Geral da União. No STF, onde o caso foi parar, a ministra Ellen Gracie (indicada por Jobim, referendada por FHC) decidiu pelo arquivamento da ação. O Supremo nem sequer analisou um recurso do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra a decisão. A sede do IDP é um amplo prédio de quatro andares, onde, segundo o site do instituto, há 22 salas de aula “amplas e confortáveis”, uma biblioteca informatizada (não é verdade), um foyer para realização de eventos acadêmicos, um auditório com capacidade para 240 espectadores (ainda em construção) e estacionamentos interno e externo (neste caso, trata-se das ruas ao redor da escola). Na fachada do edifício há uma placa na qual se lê: “Empreendimento financiado com recursos do Fundo Constitucional do Centro Oeste – FCO”. Trata-se de dinheiro gerenciado pelo Banco do Brasil, a partir de um contrato fechado durante um churrasco na laje do IDP, em 2006, quando o prédio ainda não estava pronto. Antes, um pouco de história. O IDP começou a funcionar, em 1998, na casa do ex-procurador-geral Inocêncio Coelho, no Lago Sul, uma área de casarões em Brasília. As aulas ocorriam em uma só sala, mas, com o aumento da procura pelos alunos, os três sócios acharam por bem procurar outro lugar. Em 2004, encontraram um terreno de 2,5 mil metros quadrados na Quadra 607 da avenida L2 Sul, ao preço de 2,2 milhões de reais. Para viabilizar a compra, o grupo recorreu, então, ao Programa de Promoção do Desenvolvimento Econômico Integrado e Sustentável (Pró-DF II), criado pelo ex-governador Joaquim Roriz (PMDB). O Pró-DF II tem como objetivo gerar emprego e renda a partir de benefícios fiscais dados aos empresários, principalmente os de pequeno porte. Para isso, o governo do Distrito Federal diminui impostos e dá descontos de até 80% no valor do terreno a ser utilizado pelo empresário. O subsecretário do programa, Engels Rego, não sabe explicar como o IDP foi enquadrado na rubrica de “setor produtivo”. De acordo com o subsecretário, pelos parâmetros atuais, definidos no governo Arruda, o IDP não teria recebido um terreno na L2 Sul, área central do Plano Piloto de Brasília, onde praticamente não há mais espaços disponíveis. “A política da secretaria nessa gestão é incentivar o setor produtivo nas regiões administrativas, para desafogar o Plano Piloto e desenvolver as outras áreas da cidade”, afirma. Autor de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra o Pró-DF II, por não concordar com a política de composição do conselho deliberativo do programa, o presidente da Federação das Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal (Fempe-DF), Sebastião Gabriel de Oliveira, conta jamais ter visto um micro e pequeno empresário local conseguir terreno no Plano Piloto, como o do prédio do IDP. “As micro e pequenas empresas nunca tiveram esse privilégio, a gente não tem cacife para isso”, garante. Os três sócios do IDP assinaram o contrato com o Pró-DF II em 1º de setembro de 2004, quando Mendes já estava no STF. Os donos do instituto conseguiram enquadrar o negócio nos parâmetros do programa do governo distrital e obtiveram, ao fim do processo, o maior desconto possível, de 80%. Assim, o terreno, cujo preço original era de 2,2 milhões de reais, foi financiado, em cinco anos, por 440 mil reais – o preço de um apartamento de quatro quartos, no mesmo bairro. A boa estrela, digamos, do IDP não parou de brilhar por aí. Em fevereiro de 2005, quando se iniciaram as obras no terreno da L2 Sul, o caixa do instituto, segundo o diretor-geral Luiz Fernandes, dispunha de 3 milhões de reais. O dinheiro, diz ele, não era suficiente para levantar o prédio totalmente, razão pela qual Fernandes teve de correr atrás de um empréstimo, inicialmente, sem sucesso. Quando o primeiro piso do edifício ficou pronto, organizou-se a chamada “festa da cumeeira”, com o tal churrasco assado sobre a laje pioneira. Um dos convidados, conta Luiz Fernandes, era um gerente do Banco do Brasil que, entre uma picanha e outra, quis saber de Inocêncio Coelho a razão de não haver nenhuma placa do banco na frente da obra. “Não tem placa porque não tem financiamento algum”, disse o sócio do IDP. Foi quando o gerente os aconselhou a procurar o Fundo Constitucional do Centro Oeste (FCO), gerido pelo Banco do Brasil e, normalmente, destinado a projetos muito diferentes dos propostos pelo instituto. No primeiro balanço trimestral de 2008, o FCO liberou mais de 450 milhões de reais. Pouco mais de 190 milhões (40%) foram destinados a micro e pequenas empresas. As companhias de médio porte receberam 32%, ou 150 milhões de reais. A prioridade de investimento do fundo é, porém, o meio rural, que recebeu 278 milhões de reais (60%). O setor de comércio e serviços aparece apenas em terceiro lugar, com desembolso de 62 milhões de reais, ou 13% do fundo. Mesmo assim, e sem se encaixar exatamente no perfil, o IDP apresentou-se como “pequena empresa” do setor de serviços para solicitar o financiamento. A política do FCO visa, preferencialmente, atividades comprometidas com a utilização intensiva de matérias-primas e mão-de-obra locais, sobretudo na produção de alimentos básicos. A análise dos pedidos de empréstimos leva em conta a preservação do meio ambiente e busca incentivar a criação de novos pólos de desenvolvimento capazes de reduzir as diferenças econômicas e sociais entre as regiões. Ainda assim, graças ao churrasco da laje, o IDP conseguiu arrancar do fundo, com prazo de pagamento de dez anos, um financiamento de 3 milhões de reais, com base na rubrica “instalação, ampliação e modernização de estabelecimentos de ensino e de prática de esportes”. Como garantia para o empréstimo, diz Fernandes, os sócios ofereceram patrimônios pessoais. Mendes colocou à disposição do Banco do Brasil uma fazenda em Mato Grosso. Inocêncio Flores e Paulo Gonet, as casas onde moram, no Lago Sul de Brasília. Nenhum dos três atendeu aos pedidos de entrevista de CartaCapital. A assessoria de imprensa do presidente do STF deu, em particular, uma desculpa que até agora causa perplexidade. Segundo a assessoria, Mendes não costuma conceder entrevistas. A escola tem 22 funcionários, segundo informação do diretor-geral. Os 87 professores anunciados no site não são contratados formalmente, mas profissionais requisitados para cursos específicos, pagos pelo sistema de Recebimento de Pagamento Autônomo (RPA). O corpo docente recebe, em média, 6 mil reais por mês, a depender do status acadêmico ou de poder de cada um. Antes de ser inaugurado, em setembro de 2007, o prédio do IDP sofreu um embargo de seis meses da Secretaria de Desenvolvimento e Turismo (SDET) do Distrito Federal, comandada pelo maior empreiteiro da cidade, o vice-governador Paulo Octávio. Os fiscais da secretaria descobriram que a obra tinha avançado três metros além da altura máxima permitida pelo gabarito de ocupação da capital. Fernandes garante ter resolvido o assunto burocraticamente, sem interferência política. Mendes, pelas limitações da Lei Orgânica da Magistratura, não ocupa cargo executivo no IDP, mas costuma fazer retiradas em dinheiro. Na última, pegou 20 mil reais. No STF, seu salário é de 24,5 mil reais por mês. Além disso, de acordo com Fernandes, o IDP tem restituído aos sócios, em parcelas mensais, 125 mil reais que cada um foi obrigado a desembolsar, no ano passado, para completar o dinheiro da obra do prédio. O diretor-geral admite ter suspendido as pretensões de contratos com o STF, em 2006, quando veio a público a ligação de Mendes com o instituto. Isso não o impediu, porém, de fechar contratos com o STJ, de onde são oriundos sete professores do IDP. Nem no Senado Federal, onde a influência do presidente do STF ajudou a consultoria jurídica da Casa a escolher, sem licitação, o instituto em detrimento das propostas de três universidades, entre elas a Universidade de Brasília (UnB), onde muitos dos magistrados contratados pelo IDP também dão aula. Há outros conflitos de interesses evidentes. O sistema de busca de processos no site do STF mostra que 35 professores do IDP, entre advogados, promotores e procuradores, têm ações em tramitação no Supremo. Ou seja, atuam como parte interessada em processos no tribunal atualmente dirigido por seu empregador. O nome de um dos sócios de Mendes no instituto, Inocêncio Coelho, aparece 14 vezes na consulta ao site do tribunal.

*Colaboraram Filipe Coutinho e Phydia de Atahyde

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Reação de Lula

deu em o globo
Lula critica "cassino" e cobra responsabilidade dos EUA
De Sérgio Torres:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou ontem com dureza os Estados Unidos pela crise financeira global e cobrou soluções do governo de George W. Bush e do Congresso americano.
Após participar na ABL (Academia Brasileira de Letras), no Rio, de solenidade alusiva aos cem anos da morte de Machado de Assis e da assinatura do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Lula saiu da agenda para falar com jornalistas sobre a crise. Para ele, "diante do mundo", os EUA "precisam ter responsabilidade", pois "ali não existe meio-termo".
"Está na hora de o Congresso americano e de o governo americano assumirem a responsabilidade que lhes cabe nessa história. Ou seja, não permitir que a disputa político-eleitoral [a eleição presidencial] que vai se dar em novembro se dê na discussão do plano econômico. Eles criaram um rombo no sistema financeiro, então agora têm que tapar esse rombo para deixar o mundo tranqüilo."
"Os países emergentes e os países pobres, que fizeram tudo para ter uma boa política fiscal e fizeram tudo para fazer a economia ter estabilidade (...), não podem agora ser vítimas do cassino que eles montaram na economia americana", disse.
Os efeitos da crise global na economia brasileira foram minimizados pelo presidente. Segundo ele, há tranqüilidade no governo, embora reconheça a gravidade do quadro mundial.
"Aqui no Brasil, quando se trata de financiamento de banco de investimento, o banco não pode alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido. Nos Estados Unidos não tem limite. Hoje fiz reunião com o ministro da Fazenda [Guido Mantega] e com o Banco Central.
Nós estamos tranqüilos. Sabemos que a crise é grave, sabemos que vai diminuir o crédito no mundo, mas estamos seguros de que as nossas exportações continuam indo bem." Assinante do jornal leia mais em: Lula critica "cassino" e cobra responsabilidade dos EUA

Pacote rejeitado


O que está em jogo é importante demais para que fracassemos, adverte Paulson
Congresso precisa agir com urgência para evitar agravamento da crise, diz Bush
Publicidade
da Folha Online
Atualizado às 10h
O presidente dos EUA, George W. Bush, voltou à TV nesta terça-feira para dizer que a demora na aprovação do pacote de ajuda ao setor financeiro, de US$ 700 bilhões, poderá piorar a cada dia a situação de crise no país.
"A realidade é que estamos em uma situação de urgência e as conseqüências serão piores a cada dia se não agirmos", afirmou Bush, no quarto pronunciamento na TV em menos de uma semana, sobre a crise financeira no país. "Estamos em um momento crítico de nossa economia (...) Reconheço que essa é uma votação difícil para o Congresso. Ninguém gosta de ver a economia chegar a esse ponto", disse o presidente, que destacou ser preciso urgência para atacar a crise.
Saiba o que continha o projeto de US$ 700 bilhões rejeitado hoje nos EUAVeja a cronologia da crise nos mercados financeirosEntenda a crise que atinge a economia dos EUA
Bush lembrou que o projeto do pacote --que, de um documento de três páginas na forma como foi apresentado pelo Departamento do Tesouro, passou a mais de 100 páginas após dias de negociação com o Congresso-- foi rejeitado por uma pequena margem (foram 228 contra e 205 a favor da medida), mas que esse "não foi o fim do processo legislativo". "Pode haver muita disputa nesse tipo de votação, mas o que importa é que avancemos", disse.
Charles Dharapak/AP

Presidente Bush faz quarto pronunciamento na TV em apelo para aprovação do pacote
"Precisamos de um projeto que realmente enfrente os problemas que estão prejudicando o sistema financeiro, que ajude a retomar o fluxo de crédito no país, para quem empresta, para quem toma o empréstimo, a fim de fazer a economia andar de novo", afirmou o presidente.
Ontem (29), os deputados norte-americanos rejeitaram o pacote de resgate dos bancos por 228 votos contra; a favor foram 205 votos. As negociações em torno do projeto devem permanecer paradas, especialmente nesta terça-feira, por conta do feriado do Ano Novo judaico.
O líder da maioria na Câmara de Representantes, o democrata Steny H. Hoyer, informou ontem que, apesar de a Casa Branca querer que um novo pacote de medidas seja discutido com urgência, os deputados só vão se reunir na quinta-feira, ao meio-dia (13h de Brasília).
Ainda segundo Hoyer, embora uma sessão tenha sido convocada para quinta-feira, "ainda não foi decidido" se a Câmara de Representantes vai estudar "a legislação relacionada à crise econômica".
No entanto, o democrata esclareceu: "Continuaremos trabalhando contra o tempo na busca por uma solução bipartidária para as sérias ameaças à segurança econômica (...)".
Shawn Thew/Efe

O que está em jogo é importante demais para que fracassemos, adverte Paulson
Bolsas
O presidente disse que a queda "dramática" vista nas Bolsas ontem terá um impacto direto em todos os setores da economia americana. "Se continuarmos nesse rumo, o estrago econômico será muito grande", disse. Ontem, o índice Dow Jones, da Nyse (Bolsa de Valores de Nova York, na sigla em inglês), teve queda de 777,68 pontos durante o dia. Foi a maior queda em pontos já registrado pelo indicador. No fim do dia o índice caiu 6,98%, fechando com 10.365,45 pontos.
As perdas de ontem nas Bolsas representaram uma perda de mais de US$ 1 trilhão, destacou Bush.
O presidente lembrou que o valor do pacote, US$ 700 bilhões, assusta os americanos. "Claro que essa é uma grande quantidade de dinheiro, mas é necessário para lidar com um problema do mesmo tamanho", disse o presidente. O custo final ao contribuinte seria muito menor, disse o presidente, porque muito do dinheiro empregado no pacote seria recuperado.
"O Congresso precisa agir. O governo vai continuar a atuar com os líderes dos dois partidos. Vamos conversar com eles para tentar fazer avançar a legislação", afirmou.
O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse ontem que os Estados Unidos precisam "o mais rápido possível" de um plano de resgate do sistema financeiro. Segundo ele, o que está em jogo é importante demais para que o projeto fracasse.
"Temos que trabalhar o mais rápido possível. Alguma coisa deve ser feita. Vou seguir adiante com as consultas com os dirigentes do Congresso para encontrar uma forma de progredir", disse Paulson à imprensa depois de uma reunião com o presidente americano, George W. Bush, na Casa Branca.
Legisladores dos dois lados afirmaram que as negociações sobre o acordo não param. A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, disse em entrevista à imprensa que as "linhas de comunicação" continuam abertas com o governo, e que o Congresso precisa avançar para ajudar a salvar o mercado.
"É difícil imaginar que nós deixaremos o mercado com seus próprios medos e regras até sexta-feira", disse por sua vez o republicano Adam Putnam. "Nós estamos encorajando nossos membros a entender as conseqüências de não fazermos nada", afirmou.
Futuro incerto
O futuro do plano do governo de salvamento das empresas financeiras, no entanto, é incerto. A Casa Branca informou ontem estar "muito desapontada" com a rejeição.
Às vésperas da votação fracassada, líderes republicanos e democratas fecharam no fim de semana um acordo para aprovar a votação --por isso a surpresa do resultado no mercado e no governo americano.
No Congresso, líderes republicanos e democratas dizem que vão considerar uma revisão do projeto. O texto rejeitado hoje não pode ser reencaminhado à Câmara. Além da polêmica natural do assunto, as agendas de campanha dos congressistas podem dificultar a obtenção de quórum para uma nova votação.
Projeto
Em linhas gerais, o projeto apresentado pelo Congresso limita os poderes do Executivo para gerir o pacote, estreita a vigilância sobre a aplicação dos recursos, reduz os pagamentos milionários aos grandes executivos por trás das instituições financeiras que quebraram, além de ampliar benefícios para os contribuintes.
O texto foi redigido durante a noite de domingo e a manhã de segunda-feira (29), depois que os líderes do Legislativo alcançaram um acordo, sobre suas linhas gerais, pouco depois da meia-noite. Em comparação, a proposta inicial apresentada ao Congresso pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, tinha três páginas.
Em lugar de pôr à disposição do Tesouro dos EUA, de uma vez só, os US$ 700 bilhões, o montante será liberado de forma fracionada. O governo poderá usar US$ 250 bilhões imediatamente, e US$ 100 bilhões somente se o presidente Bush considerar necessário. O Congresso pode reter os outros US$ 350 bilhões se não estiver satisfeito com o desempenho do programa.
Os democratas também conseguiram introduzir cláusulas para a proteção do contribuinte. O projeto estabelece um conselho de supervisão do programa, que incluirá o presidente do Federal Reserve (banco central americano), Ben Bernanke, entre outras altas autoridades americanas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


:: Seminários na Fundaj celebrarão 20 anos da Constituição Federal

O Projeto Oficina da Segurança, Justiça e Cidadania decidiu, na sua programação anual, promover um evento comemorativo da passagem doaniversário de 20 anos da Constituição da República Federativa do Brasil, que ocorrerá em outubro próximo.

Os organizadores do Projeto Oficina... optaram, como iniciativa para marcar tal data, realizar um conjunto de cinco seminários agrupados sob o título "A Constituição Cidadã e o Estado Transgressor”. As sessões acontecerão nos dias 01, 08,15, 22 e 29 de outubro, sempre no período da manhã, no auditório Calouste Gulbenkian da Fundaj Casa Forte.


O impensável aconteceu por Boaventura de Sousa Santos



27-Set-2008
O Estado que regressa como solução é o mesmo Estado que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção. Isto significa que se o Estado não for profundamente reformado e democratizado em breve será, agora sim, um problema sem solução. Artigo de Boaventura de Sousa Santos, publicado na Visão em 25 de Setembro de 2008 e disponível em boaventuradesousasantos.pt.
A palavra não aparece nos media norte-americanos mas é disso que se trata: nacionalização. Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do país e da maior seguradora do mundo, o Governo Federal dos EUA decidiu assumir o controle directo de uma parte importante do sistema financeiro. A medida não é inédita, pois o Governo interveio em outros momentos de crise profunda: em 1792 (no mandato do primeiro presidente do país), em 1907 (neste caso, o papel central na resolução da crise coube ao grande banco de então, J.P. Morgan, hoje, Morgan Stanley, também em risco), em 1929 (a grande depressão que durou até à Segunda Guerra Mundial: em 1933, 1000 norte-americanos por dia perdiam as suas casas a favor dos bancos) e 1985 ( a crise das sociedades de aforro). O que é novo na intervenção em curso é a sua magnitude e o facto de ela ocorrer ao fim de trinta anos de evangelização neoliberal conduzida com mão de ferro a nível global pelos EUA e pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e o Banco Mundial (BM): mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentação; Estado fora da economia porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social. Foi com estas receitas que se "resolveram" as crises financeiras da América Latina e da Ásia e que se impuseram ajustamentos estruturais em dezenas de países. Foi também com elas que milhões de pessoas foram lançadas no desemprego, perderam as suas terras ou os seus direitos laborais, tiveram de emigrar.
À luz disto, o impensável aconteceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição; o capital tem sempre o Estado à sua disposição e, consoante os ciclos, ora por via da regulação ora por via da desregulação. Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela, tão generalizada foi a sua conversão ao evangelho neoliberal. Muito continuará como dantes: o espiríto individualista, egoísta e anti-social que anima o capitalismo; o facto de que a factura das crises é sempre paga por quem nada contribuiu para elas, a esmagadora maioria dos cidadãos, já que é com seu dinheiro que o Estado intervém e muitos perdem o emprego, a casa e a pensão.
Mas muito mais mudará.
Primeiro, o declínio dos EUA como potência mundial atinge um novo patamar. Este país acaba de ser vítima das armas de destruição financeira maciça com que agrediu tantos países nas últimas décadas e a decisão "soberana" de se defender foi afinal induzida pela pressão dos seus credores estrangeiros (sobretudo chineses) que ameaçaram com uma fuga que seria devastadora para o actual American way of life.
Segundo, o FMI e o BM deixaram de ter qualquer autoridade para impor as suas receitas, pois sempre usaram como bitola uma economia que se revela agora fantasma. A hipocrisia dos critérios duplos (uns válidos para os países do Norte global e outros válidos para os países do Sul global) está exposta com uma crueza chocante. Daqui em diante, a primazia do interesse nacional pode ditar, não só protecção e regulação específicas, como também taxas de juro subsidiadas para apoiar indústrias em perigo (como as que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para o sector automóvel). Não estamos perante uma desglobalização mas estamos certamente perante uma nova globalização pós-neoliberal internamente muito mais diversificada. Emergem novos regionalismos, já hoje presentes na África e na Ásia mas sobretudo importantes na América Latina, como o agora consolidado com a criação da União das Nações Sul-Americanas e do Banco do Sul. Por sua vez, a União Europeia, o regionalismo mais avançado, terá que mudar o curso neoliberal da actual Comissão sob pena de ter o mesmo destino dos EUA.
Terceiro, as políticas de privatização da segurança social ficam desacreditadas: é eticamente monstruoso que seja possível acumular lucros fabulosos com o dinheiro de milhões trabalhadores humildes e abandonar estes à sua sorte quando a especulação dá errado.
Quarto, o Estado que regressa como solução é o mesmo Estado que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção. Isto significa que se o Estado não for profundamente reformado e democratizado em breve será, agora sim, um problema sem solução. Quinto, as mudanças na globalização hegemónica vão provocar mudanças na globalização dos movimentos sociais que se vão certamente reflectir no Fórum Social Mundial: a nova centralidade das lutas nacionais e regionais; as relações com Estados e partidos progressistas e as lutas pela refundação democrática do Estado; contradições entre classes nacionais e transnacionais e as políticas de alianças.

domingo, 15 de junho de 2008

Zulia - Maracaibo

O estado de Zulia é o mais povoado da Venezuela, com mais de três milhões e meio de habitantes. A sua capital é Maracaibo, e no interior dos seus 63000 quilómetros quadrados encontra-se o Lago Maracaibo, o maior lago da América Latina.
O petróleo – este estado move cerca de 80% da produção nacional ,a agricultura e a criação de gado trouxeram prosperidade ao país.
Ao longo de toda a sua extensão, Zulia tem 21 municípios, dos quais destacamos Maracaibo, a sua capital, San Francisco e Ciudad Ojeda. Dos sítios de interesse de Zulia podemos salientar os seus monumentos e o seu património cultural, com o Museu de Arte Contemporânea, o Castelo de San Carlos e a Basílica de Nossa Senhora de Quiquinquirá.

Contador de homicídios - Recife

Contador de Homicídios
*Registros do dia: 10
Registros do mês: 149
Desde 1 de janeiro de 2008 : 2001
*Atualizado diariamente ao meio-dia.
Fonte: http://www.pebodycount.com.br/home/index.php

Golpe moral nas Farc X autonomia de Zulia... o que significa...


O presidente da Bolívia, Evo Morales, propôs um acordo político entre o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para resolver o conflito no país.
O presidente se referiu ao tema ao ser questionado sobre a morte do máximo chefe das Farc, Pedro Marín Bernal, conhecido como "Manuel Marulanda" ou "Tirofijo" por um "ataque cardíaco" em 26 de março, segundo confirmou a própria guerrilha.
Na última semana, o presidente do Equador, Rafael Correa, também pediu as Farc que deixem as armas e libertem de forma incondicional todos os reféns em seu poder. O equatoriano também disse ao grupo para iniciar conversas políticas e diplomáticas.

A presença da guerrilha é, na visão de Chavéz, um dos pretextos dos EUA para reativar a IV Frota e, agora, propor ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, a transferência para seu país da base “antidrogas” de Manta, que será despejada pelo governo do Equador. O governo da Venezuela tem motivos para recear que a base seja instalada perto da sua fronteira e seja utilizada para promover uma “mudança de regime” ou apoiar um eventual movimento separatista do estado de Zulia.


Zulia, juntamente com a província equatoriana de Guayas e o departamento boliviano de Santa Cruz – todos territórios prósperos com governos locais neoliberais que não querem acatar governos nacionais populares – participa de um Foro Internacional sobre Liberdade e Autonomia Regional.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Chocolate Quente com Leite Condensado


Para quem tem friozinho no dia de Santo Antonio, eis essa receita. Venho acompanhando esse pessoal desde que eram blog, agora é site... portanto essa receita já foi testada e aprovada por mim e por Luis Augusto. O risco, quando levo esse chocolate quente para o parque da Jaqueira é que ele não sai de perto da garrafa térmica, e pra quem conhece Luís sabe o quanto isso é perigoso! Ao invés do conhaque para finalizar sugiro o vinho do porto, eu não coloco álcool por causa das crias.



Ingredientes

1 litro de leite;
4 colheres de sopa de chocolate em pó;
3 gemas passadas pela peneira;
½ lata de leite condensado;
2 paus de canela.


Modo de Preparo


numa panela alta, ferva o leite com os paus de canela;
bata as gemas com o leite condensado;
reserve;
quando levantar fervura adicione o chocolate em pó dissolvido no copo de leite reservado;
continue mexendo sem parar;
deixe levantar fervura novamente;
retire do fogo acrescente o creme de gemas;
misture;
leve ao fogo novamente e deixe levantar fervura, nunca pare de mexer;
retire do fogo e mexa até abaixar.


Dica: Depois de pronto você pode colocar 2 colheres de sopa de conhaque, ou de outra bebida alcoólica que preferir… Se não tiver chocolate em pó na sua casa, use o achocolatado mesmo. Vai ficar um pouquinho mais doce.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

TV Globo falsifica o áudio do futebol para agradar corinthianos




Por Julio Moreira*
'Não pára, não pára, não pára!' Este era o canto da torcida organizada do Corinthians que se ouvia ontem à noite, durante o início da transmissão do jogo pela TV Globo. Pelo menos aqui em São Paulo.
Mas veja, o Estádio da Ilha do Retiro tem capacidade para 36 mil pessoas, das quais 35 mil eram torcedores do Sport e apenas 1000 torciam para o Corinthians. Como então o canto da torcida era corintiano?
Tecnologia e engenharia de som. O áudio foi captado e divido em 3 canais - o do narrador, o da torcida do Corinthians e o geral do estádio. Então, o diretor técnico aumenta o volume do canal da torcida do Corinthians e diminui o volume geral do estádio. Isto cria no telespectador a falsa idéia de que a torcida no estádio é do Corinthians e ajuda a audiência, aqui em Sao Paulo, onde a maioria da população é corinthiana.
Esta forcinha da técnica durou até o primeiro gol do Sport, pois então, a esmagadora torcida do Sport foi ao delírio e aí não houve técnica que ajudasse o torcedor do Timão. Ainda mais depois do segundo gol.
A transmissão do futebol é uma operação JORNALÍSTICA, realizada pelo departamento de jornalismo esportivo. Não se pode falsear o áudio do estádio. Nao é ficção, não é dramaturgia. É jornalismo.
A TV Globo foi convidada pelo Comitê Gestor das Olimpíadas de Pequim para gerar as imagens do Vôlei de Praia. Este convite foi feito pela sua reconhecida competência técnica. Não pode, ou melhor, não deve, colocar em risco este reconhecimento para turbinar a audiência de um jogo. É pequeno, não precisa.
*Julio Moreira é colunista do site especializado em mídia e publicidade Blue Bus e cedeu gentilmente este artigo ao De Primeira.


quarta-feira, 11 de junho de 2008

E-book sobre Segurança

Projeto Oficina de Segurança edita publicações online:

O Projeto Oficina de Segurança, Justiça e Cidadania, fruto de uma parceria entre diversas entidades ligadas aos direitos humanos - entre elas, a Fundaj - vem editando, periodicamente, publicações eletrônicas baseadas no Seminário Cidadania Ativa.

O primeiro e-book, "A Independência da Magistratura", foi organizado pela pesquisadora Ronidalva Melo, ligada à Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco. A publicação eletrônica está disponibilizada no site da Fundaj desde 29 de abril de 2008.
O segundo livro virtual do Projeto Oficina de Segurança, Justiça e Cidadania chama-se "Mecanismos de Fragilização e Quebra da Independência dos Juízes, Promotores e Delegados de Polícia" e entrou no ar em 20 de maio de 2008.
As publicações são frutos do seminário Cidadania Ativa, promovido pelo Projeto Oficina de Segurança, e estão disponíveis, na íntegra, no site institucional da Fundaj, em www.fundaj.gov.br/oficina. Para baixar todo o conteúdo das obras é necessário possuir o programa Adobe Acrobat Reader, pois o arquivo está em formato "PDF".

Mais informações pelo fone (81) 3073-6514.

O que é a relação Sul-Sul?


Poderíamos chamar de relação sul-sul prioritariamente à política externa brasileira em face da América do Sul: o MERCOSUL e a cooperação sul-americana em termos mais gerais que, dentro do arco das atuações externas do país identificaria em primeiro plano uma relação sul-sul.
Por outro lado, a cooperação do Brasil com outros países identificados mais recentemente como “grandes mercados emergentes” e system-affecting, em outros continentes, como é o caso da África do Sul, Índia, China e, em diferente medida, da Rússia, é que tem sido chamado categoricamente de relação sul-sul.
A potencialidade das relações entre África do Sul, Índia e Brasil é de uma grandeza incomensurável e ainda não foi descoberta porque, durante décadas e décadas, deu-se prioridade e quase exclusividade para uma relação muito forte com os países do Norte, leia-se Estados Unidos, em termos mais radicais.
O termo sul-sul, entretanto, significa mais que uma posição geográfica, esta inserido aí posições políticas, econômicas e sociais que dão nova tonalidade a relações de países que não estão mais sob o domínio dos Estados Unidos.
Nesse contexto é que nessa semana iremos além e analisaremos outra relação sul-sul que desponta ainda mais inovadora. A relação entre América Latina e Países Árabes. Seja Israel ou Irã.

Assim, iremos acrescentar novos olhares aos nossos estudos que cada vez mais aproxima esses dois pólos. Já foi com grata satisfação que descobri que a maior comunidade libanesa do mundo encontra-se no Brasil. E só aí lembrei que em todas as cidades temos um clube sírio-libanês, lembrando que já temos um tópico sobre porque a relação Síria-Líbano é tão próxima.



Abraços a todos e a todas as minhas 3 leitoras, Juçara, Cláudia e Camila. Amiiiiiiigas!

Mercosul e Israel

Os países-membros do Mercosul firmaram acordo de livre comércio com Israel em dezembro de 2007. Foi o primeiro acordo comercial feito pelo bloco com um país fora da América Latina.
O acordo foi assinado pelo presidente uruguaio Tabaré Vázquez -presidente temporário do bloco durante o segundo semestre de 2007- e o ministro de Comércio e Indústria de Israel, Eliyahu Yishaidurante, durante a cúpula do bloco, que aconteceu em Montevidéu, Uruguai.
A negociação foi fechada após dois anos de conversações, e permitirá a ampliação do comércio com o país do Oriente Médio, que em 2006 significou cerca de US$ 1 bilhão.
A previsão é, em dez anos, 95% das exportações do bloco para Israel e 97% das exportações israelenses para o Mercosul serão comercializadas com tarifa zero.

Cúpula América e Países Árabes

A Cúpula América do Sul - Países Árabes constituiu o primeiro encontro internacional de porte na história recente, que, fora da programação regular de trabalho das Nações Unidas, buscou aproximar dois grandes e importantes blocos de países em desenvolvimento.A Cúpula teve por objetivos:
  • primeiro, promover a redescoberta recíproca de duas regiões que têm muitas afinidades históricas e um vasto potencial de realização no campo das relações bilaterais. Olhando para o passado, o ponto de contato entre os dois mundos remonta à presença árabe na Península Ibérica e à conformação das culturas que, mais tarde, seriam transplantadas para a América do Sul. Esses laços se retomaram e se fortaleceram com as correntes migratórias árabes em direção à América do Sul, a partir do século XIX, que contribuíram significativamente para a formação social e cultural de países sul-americanos (no Brasil vivem cerca de 10 milhões de árabes e seus descendentes). Por outro lado, mais recentemente, grande número de migrantes sul-americanos, em particular de brasileiros, tem feito o caminho inverso, em direção ao Oriente Médio, deixando parte de sua família na América do Sul e, desse modo, construindo pontes familiares e culturais entre as duas regiões;

  • segundo, com os olhos postos no futuro, promover a redescoberta de duas regiões que, a despeito da diversidade de suas respectivas situações nacionais, enfrentam desafios semelhantes na luta pelo desenvolvimento e partilham interesses e objetivos comuns. Os países de ambas as regiões propugnam a busca da paz e do desenvolvimento econômico com justiça social, o respeito ao direito internacional e ao multilateralismo, e aspiram a um mundo multipolar e inclusivo, um ambiente internacional mais justo e tolerante, que respeite as diversidades étnicas e culturais.

Fonte:http://www2.mre.gov.br/aspa/index.htm

terça-feira, 27 de maio de 2008

Questionamentos!

Franklin Ramirez nos coloca as seguintes reflexões:

O PT teria alcançado essa força, sem a figura forte e carismática de Lula?
O que acontecerá quando os governos progressistas saírem de cena e não houver uma posição forte nos parlamentos?
O que acontecerá com as novas lideranças sociais quando esses 3 ou 4 caudilhos deixarem o poder?


O que vocês acham?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Esquerda e Direita na América Latina




Essa semana vamos voltar nossas atenções para a América Latina, pois comecei o blog postando sobre o Paraguai, e seria interessante retornarmos o assunto do ponto de vista do significado da eleição de Lugo, oitavo presidente de esquerda eleito na América Latina. Existe esquerda boa e esquerda ruim? E o recente acordo Irã-Colômbia passa a significar o quê? Para começar transcrevo uma entrevista do cientista político equatoriano Franklin Ramirez, que assisti no programa MILÊNIO, na Globo News, o qual me deixou muito satisfeita com o teor da conversa e apesar da trabalheira que deu transcrever toooooda a entrevista fiquei muito feliz por que aprendi muito. Vale a pena conferir no site da Globo News a entrevista, mas resolvi registrar por escrito para ficar ainda mais acessível a quem tem net lenta. Abraços a todos e a todas minhas três leitoras, RS.


O cientista político Franklin Ramirez fala sobre o que é ser de esquerda e direita no mundo globalizado e, explica por que a política latino-americana vem se repetindo nos últimos dez anos:

Franklin Ramirez: 01

M: Queria começar com uma definição mais clara sobre os conceitos de direita e esquerda no mundo globalizado de hoje onde os terrenos não são tão definidos quanto no século passado e onde as políticas se misturam.
Como definir esses campos de direita e de esquerda?
R: Acho que, embora os campos políticos e ideológicos não sejam tão delimitados como antigamente, há valores e princípios políticos que ainda diferenciam uns campos de outros. Mas não há uma unidade forte de direita e de esquerda, há valores e princípios que são reivindicados por políticos, por movimentos de direita e esquerda e que guiam seus eleitores, os cidadãos, a sociedade... Nesse sentido há dois valores fortes que a esquerda voltou a reivindicar com a mudança de século e a sociedade globalizada. O primeiro, eu diria, é a igualdade, o valor que deu origem à esquerda, que originou o progressismo, a Revolução Francesa, a idéia de abolição, dos privilégios, a idéia de que todos devem ter a mesma chance de exercer suas liberdades e faculdades. Esta idéia de igualdade está mais articulada com o princípio da auto-realização, com a liberdade de se auto-realizar e não só com a idéia de não sofrer a interferência do Estado. Este princípio de redistribuição igualitária voltou à cena política, principalmente na América Latina. Outro princípio forte no âmbito da globalização tem a ver, com a recuperação de noção da soberania nacional, da soberania popular. É um princípio situado historicamente no contexto da abertura de mercados, de enfraquecimento de alguns estados nacionais, de várias instituições internacionais influentes na política econômica e estrutural dos Estados, principalmente no hemisfério sul. Este princípio de soberania no séc.XXI não se limita a afirmar a soberania dos estados sobre a sociedade. É um princípio de autodeterminação dos povos, da sociedade, que não se apresenta como no século passado, como uma sociedade fechada em si mesma. As esquerdas latinas, no governo ou não, vem implementando há mais de uma década o princípio da integração regional como um processo estruturante de um novo cenário político e econômico. Não é apenas o efeito de alianças nacionais entre estados. É uma pré-condição para que os estados possam avançar em suas agendas políticas e econômicas. É uma mistura de soberania popular, nacional, sem se fechar em si mesma, mas buscando uma projeção regional, como plataforma política, como condição política para abrir a negociação de reformas progressistas no mercado internacional, com instituições internacionais, como os Estados Unidos e entre os estados.

Franklin Ramirez: 02

Forma como o Jornal Extra, do Rio de Janeiro, publicou matéria emque Lula e Cabral entregavam à polícia carros para o Pan 2007. A imprensa divulgou que a segurança estava sendo maquiada para o evento.

M: Para definir melhor a direita, quais são os valores que orientam esses campos?


R: O principal valor defendido pela direita, atualmente e desde a década de 1990 é a idéia do princípio de liberdade individual, a idéia de segurança, associada à idéia de liberdade como não-interferência. A segurança política confere estabilidade para o mercado, mas há a idéia de segurança como um valor que chega a se sobrepor ao princípio da liberdade, principalmente depois do 11 de setembro nos EUA. A segurança permeia o discurso de políticos locais, prefeitos, governos e de movimentos sociais, incluindo aqueles que surgem com esse discurso, que além de tudo desconserta a esquerda. A esquerda não tem capacidade de reagir. Ela apresenta apenas uma resposta convencional: “Primeiro resolvemos os problemas econômicos. Com isso a questão da segurança se soluciona.” Mas as coisas não são bem assim. O problema da violência e da insegurança tem uma lógica própria, que exige respostas e políticas públicas específicas.

Franklin Ramirez: 03

Manifestantes frente ao Palácio de Carondelet, no Equador, após o
Congresso destituir o presidente Lucio Gutiérrez,
20 de abril de 2005. (Foto: Guillermo Granja/Reuters)
M: O quadro político na América Latina mudou muito. Você diz que: “Nunca antes, partidos, coalizões ou movimentos políticos tidos como de esquerda conseguiram se eleger democraticamente quase ao mesmo tempo para ocupar o governo de tantos países.” Como explicar essa simultaneidade?


R: Há um fator estrutural e histórico relacionado ao fim do ciclo de reformas neoliberais, das políticas de consenso de Washington para gerar maiores níveis de bem-estar social ao povo. Os efeitos foram medíocres em quase todos os países. Progressivamente as sociedades latinas se desencantaram com políticas que já haviam apoiado. O desencanto estava ligado aos baixos rendimentos econômicos. E há um terceiro fator: há uma distância estrutural da agenda econômica, o que gera um desgaste cada vez maior na classe e nos partidos políticos. Na queda De La Rua em 2001, ouvimos nas ruas estas frases: “Fora todos”, “Nenhum deve ficar”. Em 2005 na queda de Lúcio Gutierrez, no Equador, escutou-se a mesma frase: “ Fora todos”. A sociologia fala de contágio de discursos, contágio de repertório de ação, mas o contágio não se dá no vazio, e sim no âmbito de processos estruturais, mais ou menos homogêneos e comparáveis. Isso se articulou no fim dos anos 90 com a chegada de partidos progressistas tradicionais, como o PT no Brasil; Frente Amplia, no Uruguai; até o Partido Socialista Chileno...

Franklin Ramirez: 04

Os presidentes Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia), Lula (Brasil), Michelle Bachelet (Chile), Hugo Chávez (Venezuela) e Nicanor Duarte Frutos (Paraguai), durante encontro na 32ª Cúpula do Mercosul/2007


M: E os movimentos Sociais...

F: E como o surgimento de líderes não-oriundos dos partidos clássicos como Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, mas que estavam próximos aos movimentos sociais. Não são os mesmos atores sociais, com o mesmo histórico, o mesmo nível universitário, a mesma cor de pele dos atores sociais dos anos 90. Alguns estudos eleitorais sobre o voto nas últimas eleições na América Latina mostram que há um apoio dos setores...

Franklin Ramirez: 05


"Tive uma infância dura, e meu pai, desempregado, levou drogas para os Estados Unidos e foi preso. Passou três anos e meio numa prisão."Rafael Correa, presidente do Equador, confirmando revelação sobre seu pai, morto há treze anos, feita pelo deputado oposicionista Luis Almeida.



M: Há uma identificação...

R: Há uma identificação étnica, social, sociológica, que confere forte apoio popular a esses governos das classes mais baixas. Os novos governos recuperam um voto perdido nos anos 90 para líderes fortes e carismáticos como Menen, Fugimori, Collor. Foram líderes fortes, apoiados por setores populares. Mas esse voto foi recuperado por líderes de esquerda, e não foi um fato isolado.Esses líderes ganharam 2 ou 3 eleições... Isso significa que não é apenas uma condição de caudilho. Há alguns processos políticos que tomam forma através dessas lideranças. Evo Morales venceu duas eleições, Rafael Correa venceu uma, Lula ganhou duas eleições, assim como Kirchner e como o socialismo chileno. Chavéz já ganhou nove ou dez eleições. Há algo mais do que a figura do caudilho, embora a figura do caudilho seja importante em todos esses processos políticos.

Franklin Ramirez: 06


Ninguém melhor para vencer o desafio de escrever uma biografia de Che Guevara do que o mexicano Jorge Castañeda. Respaldado por sua larga experiência no estudo da esquerda latino-americana, ele seguiu as pegadas do revolucionário desde que este era apenas um garotinho até seu sacrifício final nas mãos do exército boliviano.


M: Muitos intelectuais latino-americanos, a começar pelo ex-ministro das Relações exteriores do México, Jorge Castaneda e também Carlos Fuentes, André Oppenheimer adotaram uma divisão dicotômica e maniqueísta das esquerdas nos governos latinos – uma esquerda má e uma esquerda boa – dependendo dos pontos de vista. O que acha desses critérios?


F: A tese das duas esquerdas surgiu em 2004, 2005. Castaneda foi o primeiro a tratar da questão. Para a boa esquerda, a esquerda racional, sempre segundo Castaneda, há uma visão de que a mudança tem que ser gradual, negociada através de canais institucionais. Nem sempre as mudanças são possíveis. Há uma visão mais austera e pragmática da política. Enquanto isso para a esquerda má e populista, as mudanças podem e devem ser radicais, totalizadoras, sem negociação, sem consenso e sem intermediação institucional.

Franklin Ramirez: 07


M: Mas com exceção de Cuba, nenhum desses países, deu sinais de que romperiam com as instituições ou com a estrutura de acúmulo capitalista...


F: O problema da tese das duas esquerdas é que não há uma análise histórica concreta do que ocorre em cada país. Há muito mais do que duas esquerdas.


M: Há pontos de contatos...


F: Sim, há pontos semelhantes. Mas cada governo, cada coalizão política, que ocupa o governo, responde a uma conjuntura nacional particular, responde às heranças institucionais políticas, do neoliberalismo, e também responde à capacidade de mobilização que os governos têm na sociedade de acordo com a força dos movimentos sociais e da participação social no conjunto. Estas variáveis são diferentes em cada país, e muito. Não se pode esperar que o governo de Michele Bachelet se apóie nas mobilizações sociais, nas organizações populares, em se tratando de um sistema político forte, com ação coletiva de movimentos sociais que não têm a contundência do caso boliviano, que desempenha um papel dinamizador da agenda política, que até arrisca a estabilidade do sistema político, mas que também soube ativar a conexão entre sistema político e cidadania. Não são os mesmos perfis. Quando Castaneda e companhia dizem que Chavéz quer ir além do capitalismo...Chavéz tem uma boa relação com os bancos privados. Os bancos cresceram muito em seu país. Teve lucros incríveis nos últimos anos. A relação com as petroleiras, inclusive com os EUA, é igual: o comércio está aberto. Chavéz sempre fala disso, não mudou. O padrão de acúmulo da economia venezuelana, que não nasceu com Chávez, e sim, com Carlos Andréz Perez, nos anos 70, sem manteve. É uma política baseada no capitalismo de estado com grande capacidade de retribuição à sociedade, com baixa diversificação produtiva, em setores como agricultura e alimentos. A Venezuela importa quase tudo. O padrão da política econômica que privilegia as finanças em detrimento da produção não foi modificado. O que mudou muito na Venezuela foi o padrão de redistribuição social. O governo da revolução bolivariana, como Chávez gosta de se autodenominar, teve uma política de distribuição voltada ao povo. Nem sempre foi muito eficaz, o que é um problema grave do Estado Venezuelano. É um problema da eficácia do aparato estatal, que não se compara, por exemplo, ao nível de expertise e institucionalização do estado social brasileiro.

Franklin Ramirez: 08

M: Esses são justamente os países mais polarizados, que enfrentam grande polarização da sociedade e uma instabilidade política. Os governantes tendem a culpar a instabilidade política como sendo obra dos EUA e do conservadorismo de suas elites. Mas os críticos falam também de uma ausência de visão estratégica, de incompetência desses governos. Quem tem razão?

F: Os dois argumentos têm razão. Efetivamente os setores políticos tradicionais, as elites conservadoras, os partidos que dominaram a vida política desses países nos últimos anos não entraram em uma lógica de negociação, não se adaptaram ao processo de mudança. Eles mantêm um discurso, uma histeria política muito exacerbada, em relação às ações tomadas por esses governos progressistas. Por outro lado os novos líderes desses países levaram seus discursos ao extremo sem favorecer um ambiente de negociação política. Venezuela, Bolívia e Equador são regidos por governos de esquerda após o colapso do sistema de partidos. No caso do Brasil, Uruguai e Chile os governos de esquerda chegam através do sistema partidário. Não há mediação institucional. No Equador os partidos que ficaram 30 anos no poder já saíram de cena nas últimas eleições da Assembléia Constituinte, dos 130 votos eles conquistaram 30. Na Venezuela o bipartidarismo que surgiu com o Pacto do Ponto Fixo não existe mais. Na Bolívia os partidos que governaram nos anos 90 estão enfraquecidos nacionalmente embora tenham certa força regional. A perda da capacidade de mediação das instituições antecedeu a chegada desses governos. Mas os conflitos na Bolívia, na Venezuela e no Equador são diferentes. A polarização não é tão grande no caso equatoriano. No caso equatoriano não há uma mobilização social da oposição como se viu nos últimos meses em Santa Cruz, Bolívia, como se viu com o referendo na Venezuela, para a reforma constitucional. Há conflitos e tensão política, sem haver uma polarização da ordem social.

Franklin Ramirez: 09

M: No caso do Equador, em que o presidente Correa será estado até junho, quando a nova constituição estiver pronta, você fala de uma guinada caudilhista. O que isso pode representar?

F: Todos esses processos têm ares caudilhistas, mesmo na esquerda “racional” brasileira, a figura de Lula é fundamental para o processo político. O PT teria alcançado essa força, sem a figura forte e carismática de Lula? Acho que não. Mas Lula existe em um sistema político consolidado, com partidos, com longa trajetória, com um Estado eficaz, com instituições, com tecnocracias consistentes independentemente dos limites que possa ter. Nos outros países os liderem chegaram ao poder, sem partidos ou com partidos novos e com estados obsoletos e debilitados pelo processo neoliberal dos anos 90. Além disso, os líderes caudilhos de esquerda se associam ao modelo presidencialista que impera na América Latina.

Franklin Ramirez: 10

M: Você acha que a liderança centrada numa pessoa, como no caso de Chávez, pode ser bem sucedida a longo prazo?

F: Aí está o limite dos processos vividos principalmente na Venezuela, na Bolívia e no Equador e até na Nicarágua. Isso tem a ver com a força de um líder transformador, caudilhista, forte que não é acompanhado de uma construção política da mesma envergadura. No Equador, Correa e seu governo deram poucos sinais de que queriam construir um movimento ou partido político amplo e moderno, que sirva de base para formar novas lideranças para se conectar à sociedade. É a figura do líder que conduz e guia o processo. O conjunto do modelo político tem três pilares: presidentes fortes, sociedade com altas possibilidades participativas e alto controle popular, com um corpo intermediário, os parlamentares e partidos, que por sua pluralidade, são a peça fundamental da soberania popular, do pluralismo político da sociedade. Esses processos de mudança não receberam ênfase em termos de estabilidade democrática isso pode ser perigoso. O que acontecerá quando os governos progressistas saírem de cena e não houver uma posição forte nos parlamentos? O que acontecerá com as novas lideranças sociais quando esses 3 ou 4 caudilhos deixarem o poder? Há um risco democrático e um risco de continuidade dos processos políticos.
Fim.

domingo, 25 de maio de 2008

Circuito dos poetas em Recife



Semana passada assiti na Globo News essa reportagem e gostei muito, acho que vale a pena acessar:
De Clarice Lispector a Chico Science, grandes artistas são lembrados nas ruas do Recife. São músicos, poetas, escritores que nasceram ou viveram na capital de Pernambuco e ganharam lugar cativo.

Cannes dá prêmio de melhor atriz a brasileira

A revelação brasileira Sandra Corveloni consagrada em Cannes
Há 4 horas


CANNES, França (AFP) — A brasileira Sandra Corveloni teve a carreira voltada para o teatro antes de encarnar uma comovente mãe de família em "Linha de Passe" de Walter Salles e Daniela Thomas, seu primeiro papel no cinema, pelo qual obteve neste domingo o prêmio de melhor interpretação feminina no 61º Festival de Cannes.
O prêmio é "totalmente inesperado porque o nosso é um filme coletivo, feito a quatro mãos, e um pouco como 'Rocco e seus irmãos' fala de cinco personagens; o sexto é a cidade de São Paulo", declarou Salles à AFP após a entrega de prêmios.
"Ver que grandes atores como Sean Penn, ou mesmo Jeanne Balibar ou Natalie Portman destacaram a atuação da atriz brasileira é emocionante porque sabemos quem é Sandra, uma atriz que nos pareceu extraordinária desde o primeiro teste", acrescentou.
"Isso aconteceu, principalmente, dez anos depois do prêmio de interpretação dado a Fernanda Montenegro em 'Central do Brasil' (no Festival de Berlim) e é incrível que este milagre pudesse se repetir", lembrou emocionado.
Walter Salles e Daniela receberam o prêmio em nome da atriz que não foi a Cannes, por ter perdido um bebê recentemente.
Daniela Thomas fez um pronunciamento em português, enviando uma mensagem de solidariedade à atriz.
Nascida em 1965 em São Paulo, Sandra Corveloni, uma morena de olhar voluntarioso, trabalhava no teatro até se juntar ao grupo de Eduardo Tolentino, atuando ao mesmo tempo como atriz e assistente.
Debutou no cinema em curtas-metragens "Flores Ímpares" de Sung Sfai e "Amor" de José Roberto Torero.
Em "Linha de Passe", ela faz o papel de Cleuza, mãe de família de um bairro popular de São Paulo, que vive às voltas com problemas financeiros, mas estando sempre disponível para seus filhos. Sua atuação sóbria e tocante emocionou o júri.
Rodado com um pequeno orçamento, o filme acompanha também as expectativas e os sonhos abortados dos quatro filhos de Cleuza.
Dario, por exemplo, queria ser jogador mas vê com angústia chegarem os 18 anos, que cortarão suas esperanças de tornar-se profissional; Dinho trabalha num posto de gasolina e freqüenta com assiduidade a igreja do bairro; Denis vai de uma namorada a outra e sobrevive.
O mais jovem, Reginaldo, sai à procura de um pai desconhecido que sabe ser motorista de ônibus.
Grávida de um quinto filho, Cleuza perde seu emprego de diarista, mas se dedica, com todas as forças, a embelezar o cotidiano de seus filhos.
Com este filme de ficção realista, comovente e sóbrio, o cineasta Walter Salles disse querer fugir da grande dramatização, evitando fechar seus personagens num determinismo social, mas com um olhar direcionado à juventude brasileira. Evita todos os tópicos sobre a juventude condenada à violencia.
A própria existência do filme é considerado um milagre porque não tem atores conhecidos mostrando, por trás das câmaras, uma equipe muito jovem, segundo os dois diretores.